sábado, 14 de fevereiro de 2015

Enoli Lara a Genitália Desnuda em Festa Profana

Enoli Lara a Genitália Desnuda do Carnaval!

                                                  Enoli Lara a Genitália Desnuda do Carnaval!

                                                                             FESTA PROFANA
                                 "Entre todas que hoje vieram não veio mais que uma mulher ,moça a qual esteve sempre à missa e a quem deram um pano com que se cobrisse. Puseram-lho em volta dela. Todavia ao sentar-se não se lembrava de o estender muito para se cobrir.
                                Assim ,Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria mais com respeito ao pudor."
                              Essa foi a primeira transgressora no reino  de Muirapuama, há 500 anos
                              Era a deusa Lilith reinando no Éden Tupiniquim.
                           
                              Num estado de semilucidez, sou carregada como um totem , deliciosamente tocada  em doces carícias , que cobrem o meu corpo.
                               Estou gostosamente nua, a pele quente, transpirando desejo  num louco frenesi.
                               Lábios ardentes e línguas frenéticas umedecem meu corpo e passeiam pelo meu sexo.
                               Estagiando no sonho, sou suspensa por braços fortes , que se sucedem ao me levantar e abaixar no espaço.
                              Ao ser retirada da forma piramidal  , meu corpo estremece prazeroso ao ataque de mãos masculinas, que o energizam sob pressões vigorosas.
                             O ar fica impregnado de volúpia  e cheiro de sexo, sugere a atmosfera viciosa.
                             Eles chegam , uma a um, vitoriosos e enfileirados como soldados da luxúria , tocando-me  como se eu fosse uma deidade.
                            Há uma cumplicidade latente. Eles se revezam , alguns cedem seu lugar  até que meu corpo seja apalpado  e todos usufruam  desse ritual afrodisíaco.
                           Degusto um momento único que não me limita nem no tempo nem no prazer.
                           Enquanto danço em seus braços , sinto a rigidez de seus sexos , mergulho num espaço luminoso e minha pele é um mar de leite quente  e cremoso, que me tornará mais bela , mais viva, mais erótica, matando a minha fome de viver.
                           Em pleno delírio, deduzo que lindas ninfas  deslizam suas mãos pelo meu corpo , facilitando a penetração e revigorando suas trocas sexuais.
                           Era o jardim das delícias, todos copulando vigorosa e incessantemente para festejar.
                           Tudo é compartilhado numa sutil cumplicidade.
                            Todas as formas de prazer eclodiram  e toda a nuance de desejo era saciada.
                            Absorvida , enlouquecida, entrego-me suicida ao ato sacrílego.
                            As mãos não descansam , as bocas e línguas sugam e lambem, os corpos se roçam , antevendo o simbólico rito erótico.
                            O primeiro a sair do transe prazeroso comanda de maneira desordenada que o próximo me toque , e assim sucessivamente.
                             Eles já não se reconhecem mais, os sons de murmúrios e gemidos se confundem  e o langor cede lugar à viciosidade.
                            Todos , então, redivivos , envolvidos em poderes totais, fortalecidos , domam  a natureza, preconizam a sabedoria, a generosidade, e fertilizam corpo, mente e alma.
                            Delirante! O mundo inteiro seduzido pela orgiástica cópula.Milhares de olhares perplexos , incrédulos, excitados , devoram a minha provocadora nudez.
                           A tendência era se aproximarem do objeto de desejo,(l'objet d'art), arrastados por emoções e sensações, numa excitação coletiva.
                           As criaturas marcham juntas, ritmicamente, e se transformam numa massa fálica, atropelando todos os limites.
                           Imantados pela energia da deusa Afrodite e comandados pelo deus Baco, naquele instante, após o fluxo sexual, seriam iniciados no erotismo, feitos discípulos do gozo solene ,sacerdotes do prazer eterno.
                         Ao final de cada culto, encontrariam sua personalidade revigorada  e enriquecida, todos num êxtase quase divino.
                         Bruscamente  a realidade invade o sonho , num grito dominante:
                         -Coloquem-na no chão, agora! Isto é uma ordem!
                         Despertei da letargia, porém não consegui me situar no tempo e no espaço.
                        "Havia uma desordem dos gritos, dos gestos violentos, das danças, desordem dos abraços, desordem , enfim, dos sentimentos , que uma agitação desmedida animava."(O Erotismo- G.Bataille)
                         Novas mãos me agarraram fortemente, envolveram-me com um tecido, e me levaram até o carro próximo da Apoteose.
                        Enquanto eu era retirada às pressas, a multidão alucinada  e desordenada, engalfinhava-se, inviabilizando  a identificação de vítimas  e criminosos, de sedutores e seduzidos, de sagrados e profanos.
                       E o estigma deflagrado do prazer transgressor, embriagou a todos, que, fardados, sob a égide da lei, ao me deitarem no carro, por fim, manipularam o meu corpo  e violaram minhas zonas erógenas  sôfrega e escancaradamente.
                       Eu, como uma mênade , gozara a multiplicidade de toques, de formas, de pares, de êxtases.
                      " A sexualidade está para o erotismo assim como o cérebro está para o pensamento.
                        O que está em jogo no erotismo é sempre uma dissolução das formas constituídas....a festa é por excelência o tempo sagrado.
                       O movimento da festa adquire na orgia essa força transbordante que exige geralmente a negação de todo o limite.
                       A orgia é o momento em que a verdade do avesso revela sua força subversiva. Essa verdade tem o sentido de uma fusão ilimitada....É a violência  báquica que é a medida do erotismo nascente, cujo campo original é a religião. "
                     "A mulher nas mãos daquele que a ataca é despossuída do seu ser. Ela perde, com seu pudor ,esta firme barreira , que separando-a do outro, tornava-a impenetrável :ela se abre bruscamente à violência do jogo sexual deflagrado nos órgãos de reprodução , à violência impessoal, que , vinda de fora, ultrapassa". (O Erotismo -G.Bataille).
                         Trilogia do Prazer a sacerdotisa do sexo Enoli Lara pg. 157 a 161
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domingo, 8 de fevereiro de 2015

FESTA PROFANA a GENITÁLIA DESNUDA

ENOLI LARA A GENITÁLIA DESNUDA DO CARNAVAL

                                           
"                                           "FESTA PROFANA a GENITÁLIA DESNUDA"

               "Os que jurassem a "Trégua de Deus", tinham o perdão de seus pecados".
                A quebra do juramento  acarretava grave consequência, a excomunhão. 
                O Olimpo estava em festa, em desvairada alegria, houve, então um consenso, trégua de Deus, enquanto  frenéticos  e  inebriados  mortais, entoariam :"Liberdade! Liberdade!  Abre as asas sobre nós! 
                Era a catarse, a expurgação, o prelúdio da expiação. 
                As deusas digladiavam por privilégios, mas Afrodite , nascida para o amor, seduziu o deus Baco e  tramou  em tessitura erótica, o enredo "Festa Profana."
              Vigoroso e devasso, deus  Dionísio, reencarnou no rei de Roma , sedutor seduzido por Afrodite que  plasmada em desejo e luxúria, incorporara  ao meu indomável ser. 
               No templo sacro-profano proibiram o deus cristão, contudo a deusa pagã, se exibiria em explícita fantasia bacante. 
               Cumplicidade na arte e no prazer , a humanidade  salivou e copulou escopofilicamente, amor e sexo foram vivenciados em miríades  de manifestações de euforia libidinosa. 
              " Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher,  moça a qual  estava sempre à missa e a quem deram um pano com que se cobrisse. Todavia ...não se lembrava de o estender muito para se cobrir. 
               "Assim Senhor , a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria mais com respeito ao pudor."
                Desci do Olimpo para o altar da Catedral do Samba. Na procissão bacante , na Festa Profana, Afrodite veio vestida pela divina luz do luar , fantasiada de amor, orgasmando em êxtases, físico, mental e espiritual. Provocara o interdito, no espaço bendito, em tempo inaudito. 
                "O rei mandou cair dentro da folia, e lá vou eu (e lá vou eu) o sol que brilha nessa noite vem da Ilha , lindo sonho que é só meu!"
                 Imantados pela energia da deusa Afrodite, seriam todos iniciados no erotismo, feitos discípulos do gozo solene, sacerdotes e sacerdotisas do prazer  divino e eterno 
                 Eu, como uma mênade, gozara a multiplicidade  de toques, de formas, de êxtases.
                 Convidada pelo carnavalesco Ney Ayan , para encarnar   Afrodite na Avenida, fiquei a vontade para criar a minha fantasia. Passara o domingo do desfile, fazendo amor , com o "Rei de Roma". 
                Na Avenida me senti como um  totem espargindo energia sexual, vibrações e emanações amorosas na orgia sacro-profana. 
                 O carro alegórico reproduzia um templo, e eu , no alto, trazia nos braços uma capa  de musseline transparente , que em movimentos dançantes, num abrir e fechar de braços, exibia por segundos, a nudez total. 
                  Todos enlouqueciam à minha passagem, amigos, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, seguranças, movimentavam-se desordenadamente , mas os olhares hipnotizados  se mantinham fixados, no meu centro gozoso.
                Mulheres de idades diversas, umas com ar tímido, outras com com malícia, olhavam e intimavam  com toques seus parceiros , a flagrar a olhos nus ou com binóculos  a minha explícita e exibida zona sexual.
                 Os desfilantes próximos, explodiam em pura lascívia. 
                 Na transmissão de TVs , os apresentadores, faziam pausas suspeitas e a voz vinha alterada.Mesmo assim as câmeras frisavam a imagem e faziam efeitos. 
                A União da Ilha  , conquistou o terceiro lugar, desfilando no sábado das campeãs. O carro sumiu após o desfile e até hoje não se teve notícia. 
                Desfilei no carro da deus Ísis,  e exibi novamente a nudez explícita, total, a genitália desnuda do carnaval. A  "Festa Profana" transformou-se num momento único  de exibicionismo , em que qualquer mulher que se permitisse experimentá-lo , usufruiria  de uma endeusação, transcendental. 
                 No enredo "Aquarilha do Brasil " eu vim   como Rainha do Flamengo e notabilizei-me por me desfilar , como uma tela, nua, representando uma fogueira rubro-negra, crepitando no órgão sexual e lambendo o corpo todo. Foi o primeiro nu frontal do carnaval, em 1988, na União da Ilha.  
                 A consagração  arrebatadora eclodiu com a deusa do amor, Afrodite,  na Festa Profana , em 1989, na eterna alumbrada União da Ilha,  para entrar para a história!
                Exibi a genitália pintada e desnuda, fui um divisor de águas, no carnaval, assim como Moisés no Mar Vermelho, abrindo passagem para  a liberdade e a ousadia, passarem em triunfo.
                 Eu fui o interdito, a bandeira libertária, o despudor que gerou pudor.Eu virei um mito, uma lenda, uma legenda, um eterno símbolo sexual. 
                 Detenho o DNA, o pátrio poder da genitália desnuda. Sou peça única, irreproduzível. 
                 Hoje nominada e batizada pelo mestre e predador intelectual, cúmplice do futebol e do carnaval Fábio Fabato, como "Patente da Genitália Desnuda, História da Avenida. 
                "Meu passado não me condena e minha nudez não foi castigada." 
                 Sou dessa família de mulheres que inventam outro mundo , que não se amansam. 
                  Sou a índia das vergonhas cerradas, como a que Caminha narrou, e também a Leila Diniz, Elvira Pagã. Sou a continuidade da  saga de Luz Del Fuego, todas Rainhas do Carnaval. 
                  Sou fascinada por Malher , que acrescentou a  percussão e a voz humana à orquestra, o toque do plexo solar, assim como a cadência do samba, o som do desejo e do divinal prazer. 
                Felizmente , não houve, excomunhão , mas a legislação foi promulgada , para conter os ímpetos desbravadores e desnudos dos artífices e dos párticipes, de libertárias festas  vindouras. 
                Assim fui coroada em tríplice  aliança, estreei na União da Ilha, marquei presença na irreverente  e desinibida São Clemente, a prima sapeca  "Garota Zona Sul" e desfilei na polêmica Caprichosos de Pilares , famosa por exibir sátiras divertidas.
                Como toda a família que se preza, tem sempre uma "prima gostosa" e exuberante, houve por bem, aflorarem três delas, no clã Carnelevamen, como sempre, disseminando alegria, provocação, irreverência e tesão. 
                Em linguagem de instintiva ousadia, libertas  de todo o pudor, desnudos os seios, desfraldando bandeiras revolucionárias, em críticas fantasiadas de bom humor. 
                 São as ovelhas negras das famílias, a transgressão prazerosa é sair com elas, fazer amor, e desfilar na avenida, exibindo o estandarte entusiasta da provocação, da libertação, da excitação. 
                  Para a cultura do Éden Tupiniquim, as primas sapecas do carnaval , esbanjam brejeirice , dengo, malícia,  sedução e encantamento. 
                  O Carnaval é imperioso, é híbrido, é a celebração em transe,  a exibição esplendorosa dos sentidos, é a revivificação de vidas vividas  e incorporação de existências imaginárias. O carnaval é o cerimonial de gozosos pensadores, refinados porta-vozes da cultura e da arte, os cúmplices e amantes do rito, da festa, da história, do fato, do movimento revolucionário, da glória.
                 É mantra imperioso, evocar e invocar a trindade, a tríade, a trilogia , no meu caso, futebol, samba e carnaval (rimando com sexo), os três êxtases, as três primas sapecas do carnaval,  as três cores da minha idolatrada e amada União da Ilha, o vermelho da paixão, o azul do infinito prazer  e o branco, da paz, da trégua de Deus!"  Enoli Lara 

Enoli Lara- escritora, escultora e atriz. Lançou a autobiografia "Trilogia do Prazer a sacerdotisa do sexo . Narra a  sua saga carnavalesca, da Apoteose para o mundo , a sua  história  na macro arte,  pintada, emoldurada e frisada no reino da fantasia bacântica,(.Nova Razão Cultural-2011)

Enoli Lara assina o posfácio do livro AS Primas Sapecas do Samba. Fábio Fabato- NovaTerra Editora-2015